Professor Hélio Zylberstajn questiona aumento do desemprego, baseando-se em pesquisa do IBGE

O desemprego está mesmo aumentando?
Hélio Zylberstajn – Professor sênior da FEA/USP e Coordenador do Projeto Salariômetro da Fipe

De acordo com a Pnad Contínua, a taxa de desemprego está crescendo, tendo chegado a 12,9% no trimestre fevereiro-março-abril. Do ponto de vista econômico, é uma notícia ruim, muito ruim, pois mostra que a recuperação do nível de atividade é ainda muito incipiente.

Mais importante que o olhar macroeconômico, porém, é a constatação de que há 13 milhões de cidadãos brasileiros à procura de trabalho, sem encontrar ocupação. É uma situação muito triste, principalmente do ponto de vista dos desempregados. Só quem passou pela experiência pode avaliar o drama existencial do desemprego. E os que têm trabalho, devem se preocupar? Já que a taxa está crescendo, os empregos de quem está trabalhando estão ameaçados?

Não quero minimizar a gravidade da situação, mas há motivos para acreditar que o crescimento dos últimos meses deverá arrefecer ou até mesmo diminuir.

Para entender, vamos examinar os resultados da Pnad Contínua, apresentados no Gráfico a seguir.

A Pnad Contínua é uma pesquisa domiciliar do IBGE que tem a finalidade de acompanhar a evolução da conjuntura social do país, com ênfase no mercado de trabalho. A cada mês, os técnicos do IBGE visitam uma amostra de domicílios, entrevistam seus ocupantes e anotam sua situação. No mês seguinte, uma nova amostra de domicílios é visitada e o mesmo ocorre no terceiro mês. O IBGE computa os dados das entrevistas dos três meses (e das três amostras) e divulga a taxa de desemprego do trimestre.
 
No quarto mês, a primeira amostra é substituída e o processo de rotação das amostras se repete. A taxa de desemprego do quarto mês contém a taxa dos dois meses anteriores e a do mês atual. Dessa forma, a taxa de desemprego divulgada mensalmente deve ser entendida como a taxa de desemprego do trimestre que termina no mês atual.
 
O primeiro ponto no Gráfico é o trimestre de janeiro-fevereiro-março de 2012, designado por 2012T03 (que marca o início da pesquisa). Trata-se do trimestre terminado em março de 2012. O próximo é o trimestre terminado em abril daquele ano, designado por 2012T4, e assim por diante.
 
A linha cheia representa a evolução da taxa de desemprego até o trimestre 2018T04 (último dado conhecido quando este texto foi escrito). O gráfico contém 7 linhas verticais, que marcam todos trimestres T03 (janeiro-fevereiro-março) do período e que mostram que, desde 2012, a taxa de desemprego sempre cresce no primeiro trimestre do ano.
 
Nos anos de 2012, 2013, 2014 a taxa diminuiu nos meses seguintes. Em 2015 e 2016, anos marcados pela recessão mais severa da nossa história, a taxa continuou a subir após o trimestre T03. Já em 2017, o padrão de queda após o primeiro trimestre volta e o mesmo acontece agora em 2018.
 
A curva pontilhada do gráfico representa a tendência da taxa de desemprego e mostra também que, neste momento, a tendência é de queda, confirmada pelo dado do trimestre 2018T04.
 
Enfim, os dados mostram que o comportamento recente da taxa de desemprego é sazonal: a taxa sempre cresce nos primeiros meses do ano e depois se estabiliza, ou, até mesmo cai. Com base no comportamento passado e, diante da superação (embora lenta) da atividade econômica, podemos esperar melhoras no mercado de trabalho para os próximos meses.

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